Tuesday, April 01, 2014

A ORAÇÃO DE GORETE.


Gorete orou. Durante longos meses, Gorete pediu a deus por um emprego, para que assim pudesse ajudar em casa e fazer um curso. Suas orações foram atendidas um dia, através da dica dada por uma amiga que trabalhava em um mercadinho do bairro: “tem aquele motel lá no fim da rua. Tão sempre chamando gente.  Paga direitinho”. A pobre Gorete não se viu em condições de argumentar, visto que deus escreve certo por linhas tortas. Ela estaria lá trabalhando e não pecando. Mais tarde, em casa, ligou e marcou a entrevista. 

Uma senhora disse o que ela tinha que fazer. O jeito que ela falou a deixou aliviada: “no começo tu fica meio mal, vai achar umas coisas estranhas. Lençol sujo é de praxe, mas se tu não prestar muita atenção, com pouco tempo acostuma. Parece que tá fazendo uma faxina qualquer, coisa normal”.

Só para garantir, Gorete levou a bíblia e ficava com ela sempre embaixo do braço para proteção. Ganhava mais se ficasse de madrugada e arrumou um curso de secretária para fazer à tarde. Fez como lhe foi dito: respirava fundo, entrava, tirava tudo sem olhar muito bem e sem julgar. Ás vezes, achava algumas coisas estranhas: calcinhas fininhas, dessas que não cobrem nada, objetos perdidos, restos de comida, uma lata de chantily. Ficava particularmente com raiva quando deixavam a televisão ligada nos filmes pornô. Se sentia envergonhada e péssima. Secretamente, fazia uma oração mental por seja lá quem fosse que havia deixado aquele quarto e também por ela, para que se mantivesse pura enquanto trabalhasse ali. Era só por enquanto, em breve acabaria o curso de secretária e poderia ir para algo melhor.

 Numa dessas madrugadas, andando pelos corredores escuros da parte interna do motel para limpar um dos quartos, ouviu um gemido forte, grave, de homem. Parecia dor, mas, ao mesmo tempo, não parecia ruim. O coração de Gorete gelou. Um nervosismo tomou conta de suas pernas quando ela ouviu outro urro, de um outro homem. Os sussurros e gemidos prosseguiram num ritmo que ia acelerando. A voz dos homens se misturando a uma respiração ofegante e algumas batidas da cama, até que, num gemido grave e uníssono, os sons pararam.

 Assustada, Gorete sentiu um calor entre as pernas e uma tremedeira que não passava. Algo pulsava dentro dela. Presumiu ser espanto de pensar em dois homens pecando daquela forma animalesca e seguiu em frente, suada, para limpar o quarto.

 A imagem a perturbou durante noites seguidas. Imaginava peitos peludos, barbas roçando, os gemidos, e acordava de madrugada com uma sensação estranha no meio das pernas. Se levantava e orava. Já havia sido alertada sobre aquelas sensações e não seria tentada por sentimentos impuros. Decidiu que, se continuasse assim, pediria demissão.
Levou um mp4 com músicas gospel para não escutar mais os barulhos emitidos pelos clientes e, por um tempo, funcionou. Mas, como toda pessoa, Gorete também era tomada de uma curiosidade sexual, um desejo primitivo que nos faz agir de forma estranha e, de tempos em tempos, Gorete baixava um pouco o volume do mp4 para ouvir os gemidos dos clientes, mas não qualquer gemido, não qualquer barulho, queria aqueles gemidos, aqueles barulhos, aquela voz grave, aquele som de homem, de luta, de dor. Era como paixão, mas será que dá pra se apaixonar por um som? Por um momento? Era tudo que ela conseguia pensar, imaginar. Era como um vício. Se por um momento se distraísse, aqueles sons, aquela imagem que ela formou na cabeça apareciam em sua mente e ela não conseguia apagar por mais que tentasse, por mais que orasse.

Até a noite em que soube pela colega da guarita que havia chegado um “grupo de viados” num carro. O coração palpitou, pensou em dizer que estava passando mal e ir embora. Não queria ver, não queria ouvir, não queria saber. Já não aguentava mais a situação em que se encontrava. Se sentia suja e impura. Colocou a música no máximo volume e seguiu com sua rotina de trabalho, mas, ao passar pela porta do quarto, na área interna do motel, se sentiu mais uma vez tentada. Olhou dos lados, não viu ninguém, encostou o ouvido na porta e seu coração deu um pulo: Lá estavam os gemidos e sons que ela queria ouvir, e dessa vez, em maior número, haviam quatro homens no quarto. Continuou ouvindo, sua buceta estava molhada, sua mão deslizou por baixo da saia jeans e a encontrou; nunca havia feito aquilo antes, mas era instintivo: era sujo, era feio, era pecado, mas era bom pra caralho e melhorava a cada toque. Não houve tempo para pensar em Deus, no futuro, na estranheza da situação ou mesmo do fetiche: Logo ela, buscar prazer com os piores pecadores? Os homens que buscam prazer em outros homens? Não houve tempo para nada disso.
 Não resistiu e entreabriu silenciosamente a porta. Haviam quatro. Estavam todos fodendo e se esfregando. Eram grandes. Somente um era peludo e barbado como ela havia imaginado. Um deles era muito jovem, magro e delicado, quase feminino. Com a visão de quatro caralhos eretos, Gorete gozou e, com um grito, caiu de joelhos. E foi quando dois casais numa suruba deram de cara com uma crente ajoelhada com a mão entre as pernas, agradecendo ao senhor pela graça alcançada. 

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