Monday, October 15, 2012

A FESTA DO BIGODE, OU, CONFISSÕES DE UM VELHO PERDIDO


Na festa do bigode, só entra quem nasceu em 1993 e sente falta dos anos 80.

Uma dezena de crianças bigodudas usando boné e shortinho, pulandinho descoordenados na frente do DJ, que toca uma música desconhecida atrás da outra, nenhuma delas pode ser assoviada, visto que melodia é muito mainstream, bem como: tom de voz, eloquência e ritmo.
Uma dúzia de meninas, que já foram bonitas e aparentaram ter 17 anos, mas, preferiram raspar uma parte do cabelo, usar maquiagem demais, usando o look do momento - “ninguém me come, mas os viados me chamam pra sair”.
Ninguém se falava, dançavam com os olhos mortos, caídos, pregados em seus smartphones, postando, curtindo e comentando. Vivemos para postar no instagram.
Sou um velho perdido na festa do bigode.

A música mais recente que tocaram, fora as desconhecidas foi de 1986, eu, pensando em pelo menos me enturmar, resolvi pedir que tocassem “vogue”, o Dj, um rapazote que devia ter 20 anos, mas parecia ter 37 e ser um caminhoneiro americano – qualquer um de bigode vira um caminhoneiro americano de meia idade - muito importante para falar comigo, ou, ao menos levantar um dedão para fingir que me ouviu, riu da minha cara e voltou a tocar.

Não tocariam vogue.
Rastejei até o bar, recuperando o que me restou de vontade de viver e comprei a última cerveja antes de ir embora pensando “onde foi que erramos?”
Como você pode defender o “seja você mesmo” quando você se esforça tanto para ser uma outra pessoa?
Juntei minhas mãos e pedi a Deus que me iluminasse e me desse forças; havia me esquecido que deus está muito ocupado distribuindo carros usados e julgando os homossexuais do alto de uma nuvem.  
Juntei meus cacos e fui-me embora para casa, beber cerveja, comer doritos (a combinação perfeita), e assistir TV, quando descobri que o canal FOX transmitirá o primeiro episódio da temporada de The Walking Dead em preto e branco.

Em preto e branco na minha TV de plasma HD com um bilhão de cores.
Então me rendo, me lembro que já fui jovem um dia e que um dia, todas as pessoas do mundo precisam ouvir gritos injustos do chefe e pegar ônibus cheio de manhã. - Não confio em quem nunca correu atrás de transporte público. Me lembro que já fui assim, que já tive piercing e que procurava bandas que ninguém jamais fosse conhecer como se eu tivesse algo a ver com isso.   

Chegara a hora de encerrar o dia, mas não sem antes tirar uma foto da cerveja e postar no Instagram.

5 comments:

Mariana Tavares said...

Não aceitarem tocar Vogue é um insulto. E vou dizer: também não conhecia metade das músicas. Só Gabriela pra salvar.

seu said...

<3

Marcus Tenorio said...

“ninguém me come, mas os viados me chamam pra sair”.

Isso é ouro, rapaz.

Léo said...

Ai a meia idade... =/

Filosofia Esquimó said...

Fui ao delírio com esse post! kkkkkkkkkkkkkkkkkk