Tuesday, October 02, 2012

DONA DALVA, MINHA VIZINHA.


 Dona Dalva minha vizinha acorda as seis e já liga a televisão no canal de crente.
Dona Dalva, velhinha, vai aguar as plantas da frente da casa, mas deixa a televisão ligada com o povo rezando, acho eu que de alguma forma, ela acredita que a reza televisionada vai proteger seu humilde lar.

 Antes de sair para o trabalho, fui em Dona Dalva, minha vizinha, e conversei educadamente, explicando que eu acordo cedo, mas não tão cedo quanto ela e que provavelmente não sou só eu, os outros vizinhos devem achar ruim também. Enfatizei que sempre a respeitei e nunca passei do ponto das festas e eu, que geralmente gosto de barulhos no sexo, estava mais comedido (esta última parte eu não comentei).
Dona Dalva, minha vizinha, comentou então que eu deveria ficar feliz em ouvir a palavra do senhor logo no ínicio do dia e ainda me perguntou se eu não tinha religião “você não é daqueles que acreditam que vieram de uma explosão, não, né?” – Não Dona Dalva, eu acredito  que um velhinho mágico de boa vontade já criou a gente assim mesmo e que apesar de estar tudo dando em merda, temos que ter  fé que ele sabe o que está fazendo, já que ele não erra, ele simplesmente escreve certo por linhas bem tortas, tipo fome + África + AIDS, mas a gente merece tudo.

Ofendida, e dando um último olhar feio para a minha tatuagem, Dona Dalva resolveu maneirar e ouvir mais baixinho. Desconversei e elogiei as rosas. Isso era verdade; mesmo com toda a merda e morando num cubículo, D. D (Dona Dalva, minha vizinha) conseguiu crescer uma roseira em uma caqueira mini. As rosas eram gigantes e tinham um cheiro muito bom. Era um momento do caralho quando as rosas estavam em flor e o vento batia e todo mundo olhava para as flores da DD.

Na volta do trabalho, DD, minha vizinha, havia deixado um desses folhetos que dizem que Jesus Te ama embaixo da minha porta mas não falei nada.

No outro dia, prontamente as seis, a reza começou.
Estava ainda mais alto, a velha colocou a televisão virada para a minha janela e estava lá fora aguando a roseira com a maior cara de inocente.

Pois se então é guerra, que seja.
Na volta do trabalho, comprei umas cervas, catei uns discos de rock e chamei a puta mais fogosinha que eu conhecia pra fuder a noite toda. “Isso, geme mais, adoro ouvir você assim” e ela gemia e dava uns gritinhos.

Gostoso.
Nada me excita mais do que a vingança. 

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