Monday, August 31, 2009

Para Moisés e Thiago, muito obrigado por tudo.

Os sinais de progresso vão ficando para trás a medida que me aproximo do estado de Alagoas, terra em que argola não cai no chão e policia é artefato de luxo e personagem de contos populares.
Choro um pouquinho ouvindo a Feist quando eu vejo a placa da pipoca Bokus me desejando boas vindas. Irônico e simbólico. Desta vez não achei motivos para rir; a tristeza veio bruta, pura, concentrada e pronta para consumir!
Pobre de mim!
Eu nunca quis voltar. Amigos, eu nunca quis voltar.
Eu só quis perder um pouco do controle da minha vida. Ando parado, me arrastando como um vermezinho. Faço as coisas todos os dias, pensando no dia em que não terei coisas para fazer.
O dia em que fui embora eu pedi encareidamente que me ajudassem a reencontrar a pessoa que eu um dia fui. Resolvi procurar nas estradas e nas caixas de cigarro. Eu e meu inseparavél parceiro do crime, Moisés, o isqueiro verde claro.
Eu estou por ai em algum lugar. Eu sei disso.
Para me encontrar eu sabia que ia ter que me perder um pouco. Nada como se foder na vida para saber quem você é. Para isso, eu ia precisar de pessoas novas e lugares desconhecidos. Nada melhor do que não saber nada!
Naquela igreja de mil quinhentos e alguma coisa [me desculpe, 82?] eu achei o primeiro pedaço. Achei o menino que existia dentro que mim, e que tinha um habito super saudavel de conhecer as coisas, explorar. Quando tinha 7 anos já lia sobre antigas civilizações e filosofia. Aquele pirralho nerd voltou a vida vendo as pinturas e azulejos e eu queria literalmente dar pulinhos de alegria. O cheiro do mofo era ocre e derretia no fundo da garganta e eu quase explodi de alegria quando o guia nos levou para lugares proibidos e passagens secretas.
O homem em mim apareceu na cerimônia de casamento. Era o homem que eu um dia fui, ou quis muito ser. Amavel e vulnerável. E o homem voltou a ser menino quando ouviu o pastou dizer que quando há amor é pra sempre. O homem, agora menino, respirou aliviado. Não era amor. O Moisés também me disse que demora, mas passa. E que durante anos ele ficou igual a mim. O homem voltou a ser menino, mas com novas esperanças.
Foi só no ultimo dia que eu encontrei o jovem. O jovem que ainda sou.
Foi só no ultimo dia que eu percebi que eu ainda sou jovem. Foi ali que percebi que nunca me permiti ser menino nem homem. E não ando me permitindo ser eu.
Desde que criança eu me segurei para não ser aquilo que parecia óbvio. Nunca me permiti ser simplesmente normal. Então agora, naquele lugar me pareceu uma boa hora. Parte do Bruno que costumava brincar já havia voltado.
Então me permiti.
Eu poderia dizer que eu fiz merda e sim. Eu fiz.
Mas eu fiz o que alguém na minha idade faria, quase que pela primeira vez na minha vida.
E foi ali, no choro do arrependimento que eu percebi. Havia encontrado uma grande parte de mim! E ali mesmo eu cai na risada. Trazendo a tona o meu verdadeiro eu. O que tem crises de riso em momentos de desespero.
Então no seu carro eu percebi que havia cumprido a minha missão.
Eu me achei.
Sou aquele que continua procurando


Obrigado por tudo!

11 comments:

Paulo José Leite said...

Cara sou teu fã, é
Tu sempre emociona com o que escreve. A sua visão do mundo e das coisas é perfeita. Quando crescer quero ter pelo menos metade da sua clareza pra se expressar.

Abraço ae

Unknown said...

como sempre... boas escolhas.

Caco said...

Muito lindo.

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz said...

e assim caminha a humanidade ... perdendo-se mas se encontrando logo adiante ... amadurecendo mas sempre com o seu SER criança aflorado ... chorando mas rindo de suas próprias lágrimas ... rindo mas lamentando a sua própria alegria ... enfim ... uma vida é sempre um paradoxo ou pelo menos, cheia de paradoxos ...

perfeito tudo o que vc contextualiza e como vc lida com suas hemorragias de idéias traduzida neste código de letras ...

parabéns...

bjux

;-)

O Gato de Cheshire said...

Um encontro, no fundo é o que sempre queremos... um encontro nos entido mais amplo e completo que a palavra pode ter....

descolonizado said...

você me arranca as palavras.
muito bom mesmo!

você me inspira!
abraços.

Mauri Boffil said...

ai...
eu ainda continuo em busca de mim...

Cocada.g said...

A vida é assim mesmo, repleta de encontros e desencontros. As perdas são coisas preciosas diante daquilo que um dia pode ser reencontrada e tratada de maneira melhor. Você se torna algo maior e melhor, mas não deixa de está perdido. Provavelmente só vai se encontrar quando morrer, porque daí não há mais nada para se perder!

Abraços amigo!

instiga-me said...

que lindo. lindo mesmo! me lembrei de clarice.

Arsênico said...

Essa vida é tão bizarra que as vezes nos perdemos... e quando damos conta... aquela pessoa já se foi... e ficou outra no lugar... talvez um pouco pior...

De repente nos achamos no dever que procurá-lo... É A VIDA!

***

umBeijo!

Zephyr said...

lindo texto !

;D