Wednesday, February 04, 2009

Calçãozinho de seda.

- E tu? O que faz da vida?
A pergunta me veio entre um copo de coca com gelo e um limão tirado com os dedos e a minha garrafa de cerveja com um copo meio cheio, ou meio vazio, eu não ligo, desde que ainda tenha cerveja no bar.
Pensei em dizer a verdade e dizer que na verdade eu não faço nada, estudo uma coisa que eu não gosto e queria mesmo era me fuder numa cidade grande e virar escritor, ganhar pouco dinheiro e beber o que sobra no fim do mês.
Pensei em dizer o quanto gosto de artes plásticas, cinema e literatura, mas tive medo de que Miss Bichinha resolvesse então me falar sobre; respectivamente: Um tio dele que faz abstratos, ou sobre o quanto ele acha ridícula a arte moderna, o ultimo filme do High School Musical, ou o quanto ele odeia o cinema nacional mas deu uma chance ao “Tropa de Elite” – Porque mostra as “realidade” do morro e que bandido tem que morrer mesmo, ou sobre algum livro do Paulo Coelho. Tudo isso me faria cogitar a possibilidade de atear fogo em mim mesmo e resolvi partir para o óbvio.
- Sou professor de inglês.
Miss Bichinha pareceu impressionada. Confidenciou-me então que não era muito bom de inglês [como todas as pessoas me dizem ao saber que sou professor, imagino que por um medo de serem corrigidas], e disse ainda que pensava em voltar a estudar inglês e me perguntou sobre um lugar barato.
Enchi meu copo e disse de um lugar que eu trabalhei que era bem barato.
Já tinha duas horas que Miss Bichinha me falava incansavelmente sobre o universo das boates, as amigas divertidas e suas incríveis aventuras e Madonnas e Britneys, artistas que também aprecio, mas sobre as quais não estava afim de conversar aquele dia.
As pessoas atrás de mim falam sobre política. Tenho vontade de me virar e esquecer a pessoa com quem me sento.
Sinto angustia.
Sinto saudades do meu calçãozinho de dormir, do meu notebook e da minha coleção de filmes pornôs, respectivamente.
Encho o copo de novo e coço o saco. Miss Bichinha parece amar a minha suposta atenção. Deve achar que o meu silêncio é na verdade um interesse infindo no que ela tem a dizer, se sente importante, inteligente, aposto como se sente atraente neste momento.
Olho a forma como ela gesticula e peço a conta.
Miss Bichinha protesta, fala “mas já”? E eu digo “é cara, desculpa, to muito cansado, morrendo de sono, o papo tava bom, depois a gente se vê’.
Pensei em dizer a verdade; saudades do meu calçãozinho de seda...

11 comments:

descolonizado said...

[risos] é, realmente são nessas horas que calçãozinhos de seda fazem falta, muita falta.

Zek said...

hahaha eu tenho o hábito de dizer a mesma coisa quando encontro um professor de inglês, rsrsrsr mas no fundo eu penso como Adoniran Barbosa " lingua dos outros eu faço questão de falar de errado".

Mas amigos mala é chato mesmo né, agora... é um senso comum muita gente estudar o que não gosta... ou trabalhar naquilo que não gosta !! ínfelizmente!!

Você continua escrevendo bem, como sempre!!!!

Anonymous said...

cara, meu pódio é ocupado por Henry Miller, João Antônio e Charles Bukowski... não necessariamente nessa ordem.

Zephyr said...

nesses tipos de encontros oq se faz de melhor é ouvir calado e beber muito,
brigadão pela visita
e volte mais vezes
:D

David Bertoldo said...

Muito bom, como sempre show na escrita. :D

Râzi said...

Aauhuhuahuahuhuha!

Tem gente, meu amor, que não precisa de companhia inteligente.

Coloque um manequim do lado delas e tem a capacidade de se divertir a noite inteira, brincando-o com a sua vida!!!

E ainda é capaz de dizer, ao final da noite, que foi a melhor de sua vida, que todos os assuntos foram muito interessantes e legai e ainda que aprendeu muito com a troca! hauahuahauahauah!

Beijão!

Anonymous said...

Bruno!

leia =)

http://www.nrcppcncn.blogspot.com

foi indicado pelo "Olha que blog maneiro!" por mim!


bj!

Rafa said...

"Tô cansado de tanta babaquice, tanta caretice, desta eterna falta do que falar".. é foda mesmo. Pelo menos a cerveja tava gelada? Bj

Hey Saturn said...

Nada como uma boa dose de sarcasmo e desprezo (que passam imperceptiveis) em conversas inúteis com pessoas fúteis.

Abs!

Ígor Andrade said...

Por que se impressiona?

um cara legal... said...

é melhor ficar o mais longe possível desse tipo de gente,
uma vez que vc concorda a pessoa se acha no direito de ter a exibicionista opinião formada sobre TUDO!