Thursday, March 20, 2008

Um conto: A porca gorda.

Ela ficava olhando pela janela do escritório e pensando em pular. Era num desses prédios de escritórios que ficavam no centro da cidade. Todo santo dia, ela acordava as sete e se arrumava para ir trabalhar. Dentro do ônibus, sempre muito cheio, ela se perguntava se tudo isso valia a pena, já que ela sempre chegaria no trabalho um desastre total; talvez por isso, só por isso, seu colega de sala Jorge, nunca a chamara pra sair... É deve ser isso. Maldito ônibus!
Ao chegar, ela corria direto para o banheiro e tentava dar um jeito no cabelo, no rosto, e principalmente nos círculos de suor que se acumulavam embaixo do braço. No sovaco. Era tanto suor, que ela um dia pensou em colocar uma outra blusa na bolsa. Mas ai, ela pensou que assim, Jorge perceberia que ela sua como uma porca gorda hipertensa e por isso precisa de blusas extra. Era horrível. No banheiro, ela imaginava que Jorge estava imaginando ela regando plantas com suas blusas encharcadas de suor. Vergonha. Ela se olhava no espelho e estava vermelha. Vergonha.
Toda vez que sentava na sua cadeirinha, pensava nos quatro anos que passara na faculdade de administração, pensando que seria alguém na vida. Pior é que mesmo depois de tanto esforço não a terem transformado em “alguém”, tudo que a preocupava no momento era o fato de ela ser uma porca gorda & hipertensa que regava plantas com o suor excessivo que se acumulava no seu sovaco. Ai Jorge... Me desculpa? Me desculpa por encharcar minhas roupas de suor e lágrimas! Um dia estarei totalmente seca e você vai me abraçar, me beijar, e me fazer suar... E seremos totalmente felizes juntos! Você vai ver!
Jorge sempre emitia um bom dia, calmo, porém decidido, sempre que ela saia do banheiro. Era o ponto alto do dia. Ele sempre chegava uns sete minutos mais tarde que ela. Lindo, lindo Jorge lindo! Chegava sempre dando “bons dias” a todos, sorrindo, conversando, vez ou outra contava uma piada, ou uma estória engraçada sobre alguma coisa que fizera no fim de semana. E tudo que ele fazia parecia tão incrível quando ele contava.
Ficavam os dois digitando em silêncio. Fazendo contas. Será que ele também sentia esta tensão sexual no ar? As vezes, quando não tinha muita coisa pra fazer no escritório, ela escrevia histórias sexuais, em que ele a comia de toas as maneiras, sempre a fazia gozar e toda vez, depois que ele gozava, olhava-a nos olhos, ofegante e dizia “eu te amo”. Sempre assim.
Ela o olhava. Tão lindo. Digitando... Quando ele ficava preocupado, colocava a mão na testa. Ela tinha vontade de dar um beijo naquela testa. Ou naquela mão que tocou aquela testa. Ele também tinha uma mania de ficar balançando as pernas o tempo todo. Pernas lindas, que um dia a envolveriam, e ela poderia tocar, arranhar... Pernas lindas que ela queria pra ela. Junto com as dela, não tão lindas assim. “Será que ele também escreve putaria pensando em mim? Será? Hmmm... Acho que não”, pensava. “Ele deve escrever sobre as mil e uma utilidades do suor na minha blusa; regar plantas, lavar o carro. Aposto que ele escreve isso e manda como e-mail pra todo mundo do escritório! Se ele faz isso, pelo menos ele é engraçado! Haha! Vai ver é disso que eles ficam rindo, acham que minhas blusas vão acabar com a sede no mundo, haha, é deve ser isso, afinal, eles riem tão alto”.
Corre pra chorar no banheiro. Merda de maquiagem barata! Agora vai ter que retocar.
Ao voltar ela lhe dirige um sorrisinho sem graça. Não quer que ele pense que ela chora com as piadas. “Pode contar meu amor. São engraçadas”. Ele sai pra buscar café. Nem pergunta se ela quer.
Ela olha pela janela e se imagina caindo. O vento nos cabelos, ela caindo devagar, o vento secando o suor do sovaco... Será que ele a salvaria? Todos os dias quando ela imagina esta cena, ele sempre está lá embaixo, de braços abertos para recebê-la linda e seca, sem uma gota de suor nas axilas. Salvação. Ela precisava que ele a salvasse dessa vida de merda! Essa vida pouca que não parece nem um pouco com a que prometem quando você entra na faculdade. Uma promessa de anos! Anos de estudo, de esforço, de provas que não provaram nada... Anos! Promessas que nunca se cumprem. Estudem mais! Se atualizem, sejam alguém! Alguém! Alguém?
Jorge, como posso ser alguém, se não sou ninguém sem você? Me diz Jorge! Me diz? Me diz se nós um dia seremos alguém. Me diz se um dia seremos um só! Me diz!
E eles seriam! Seriam alguém juntos. Alguém com pequenos alguéns correndo pela casa. Tão unidos...
Ela tinha esperança de que um dia os dois resolvessem abrir a própria empresa. Assim que ele notasse todo o talento que ela tinha. Talvez né? Ninguém sabe.
Apesar de morarem no mesmo bairro, Jorge nunca a oferecera uma carona. Talvez pelo fato de que ela nunca contou pra ele que os dois eram quase vizinhos. Ou talvez pelo fato de que ela nunca falou com ele! Mas um dia ela falaria, um dia... Talvez... Quem sabe? Quem sabe um dia, ela teria coragem pra dizer tudo! TUDO!
Jorge, eu te amo, te quero, tanto, tanto que você nem sabe. Desde que eu te vi aqui pela primeira vez, sabia que você seria meu grande amor! Eu sempre soube que você seria meu grande amor! Desculpa se eu suo como uma porca gorda e hipertensa, prometo dar um jeito nisso em breve, já estou olhando... Sabia que suadeiro tem cura? Eu vi, tem um jeito de injetarem botox, é botox, aquele que as peruas botam nos lábios, na testa, enfim, se tu por no sovaco, para de suar por ali, to juntando uma grana pra isso. Então por favor, me ame! Me queira! Escreva coisas sujas sobre mim quando não tiver nada pra fazer! Monte uma empresa comigo! Me ame!
Isso era tudo. Ou quase tudo.
Antes de esse dia chegar, Jorge, pulou pela janela. Percebeu que a vida ia ser sempre a mesma coisa, e como sabia o final do filme, resolveu pular alguns capítulos.
De lá de cima, Marta, suando como uma porca gorda e hipertensa se perguntou:
“Caralho! E agora”?

5 comments:

Matheus Thumé said...

Oi!!

Não li este último post - até pq estou quase caindo aqui -, mas li os dois últimos e gostei bastante...

Estou te add nos meus links pra poder passar por aqui mais vezes.

Abs!!

Goiano said...

kkkkkk
a porca gorda?
jesuis vc me da medo
esse foi um post praticamente escatologico! hahahaha

bjo meu lindo
e feliz páscoa

Goiano said...

atualiza caralho!

Matheus Monteiro said...

gente amei!

Técia.Alves said...

Ai ai...preciso nem dizer que vc arrasa, neh?! Eu queria ler o conto que a gente vai adaptar!!
teamo.