Wednesday, March 18, 2015

MUITO GRANDE & MUITO BICHA - Uma história afeminada.


 Estava eu, hoje, cortando meus cabelos e conversando com Jaqueline, a cabeleireira, que havia terminado com o namorado e não sabia se voltava ou se largava de vez, quando, numa olhada rápida pelo twitter, me deparei com isto:



Segurei Jaque nas mãos e perguntei "que ano é hoje", e ela me disse 2015, então choramos. Choramos pelo que está se tornando a humanidade, essa coisa feia, mesquinha, onde temos que trocar tapa para pedir respeito e berrar para pedir silêncio.

Óbvio que isso gerou discussão e no meu submundo amado do twitter, a coisa, (como sempre) se dividiu entre os que odeiam esses dois, e os que os defendem. Estes últimos são os que me deixam pasmo.

Pensei bem, e olhando para essas carinhas, talvez, eles ainda sejam jovens e tenham que amadurecer um pouquinho, lembrem-se, que cada um de nós já falou barbaridades por ai e depois pensou "mas que merda eu disse", ou viu uma foto antiga sua, de cabelão, vestido de preto com banda de rock... OK, para, isso fico para o próximo.

Uma coisa eu tenho que admitir. Eu também já pensei assim.

Really Queen?

O nome disso pode ser preconceito, ignorancia, burrice, mas vou te dizer. O nome disso é medo. Quantos de nós, no nosso processo de aceitação, na nossa busca por auto compreensão, não nos pegamos negociando com nós mesmos, nosso jeito de ser, nosso estilo, coisas que podemos disfarçar, mudar, adaptar? Isso é medo! Medo de dar a cara a tapa! Medo de ser julgado, de ter que ouvir desaforo, de não saber se defender. Puro medo.

O que esses dois ai não sabem, é, que, se não fossem os gays mais afeminados, mais escandalosos, mais poc-poc, ou pão com ovo (como queiram. Nomenclaturas não faltam), nenhum de nós estaria aqui. Seja beijando numa novela da globo, seja postando foto sem camisa no Grindr, seja no escurinho de um cinema alternativo curtindo um bom curta metragem russo, viadagem todo mundo tem e é importante curti-las. Se não fosse essas pessoas que não tiveram medo de quebrar as barreiras do que é considerado aceitável, nada do que fazemos hoje nos seria permitido. 

O que esses dois também não sabem, é que, a luta da comunidade LGBT (alô minha comunidade), não é só uma luta de gênero, ou uma luta pra poder ficar com gente do mesmo sexo e acabou por ai. Não! É muito mais que isso! Nossa luta é para que você possa fazer da sua vida aquilo que você bem entender! Seja pintar o cabelo de loiro, escovar, por calça skinny e sambar na cara das inimigas, seja, malhar pra caralho, deixar uma barba enorme e usar uma peruca loira enorme para colocar tortas na janela (sic), seja para apreciar bons vinhos e ser fino e educado, seja ser caminhoneira, MPB lover, ou patricinha maquiada e gostar da Sandy. Vida, assim como cu, cada um tem o seu, só se metem se você achar que vale.

Todos nós, enquanto seres humanos, temos que entender que, cada um de nós, gay, hetero, branco, preto, pirata, papagaio, ou bolinha de gude, enquanto estivermos nesta terra, estamos buscando respostas para algumas perguntas que jamais serão respondidas. Uns buscam essa resposta na igreja, uns na realização profissional e outros, na discografia da Cher; o importante é entender que: a vida do coleguinha, ele vive como quiser. 


Para terminar, senta que lá vem a história: 


Quando eu era jovem (2.200 anos antes de Cristo) eu estava afim de um carinha. Resolvi pedir para os amigos investigarem se haveria possibilidade de algo acontecer, ao que ele respondeu: "O Bruno? Nossa, não! Ele é #MuitoGrandeEmuitoBicha. 

Fim. Dor. Morte.
Chorei muito ouvindo Regina Spektor até lembrar que homem não chora. Homem não chora, não dança, não sofre por amor, não pede caipifruta, não come kiwi, não faz as unhas, não usa camisa rosa, não levanta o dedinho nem cuida do cabelo. Homem não faz porra nenhuma e foi o que fiz. 

Durante um tempo, virei machinho. De camisa polo, heineken na mão e comentando alguns lances sobre futebol (que eu amo mesmo, ainda hoje, vai Curintia e tal), fui machinho e assim vivi. Enquanto meus amigos falavam sobre cabelos, paus e sapatos, eu me restringia a falar sobre filmes e jogos de video games, talvez política; Cher, nunca, jamais.  (Perdão, eu não sabia o que estava fazendo).

 O que acontece é que a gente acha que vai se ajeitar mudando apenas o lado de fora. Eu malhei e me fantasiei de menino e nada mudou. Ainda tinha minhas dúvidas, meus medos, minhas paranóias (estas, nunca se foram). Mesmo desse jeito, continuei sem pegar ninguém.

 Durante uma festa de Magra, ex Magra, atual Forte Vasquez, eis que começou a tocar "Vogue" da divindade Madonna. No começo mexi só os pés. Depois as pernas. Até ela chegar em "Greta Garbo and Monroe, Dietrich and DiMaggio". Magra me olhou e sabíamos o que deveríamos fazer. Nos levantamos e arrasamos. 

 Coreografamos e interagimos com o publico - que não gostou nadinha, mas, e dai? Naquele momento eu percebi que eu ainda era sim MGMB e que nunca ia mudar. E que se eu tivesse que escolher entre "Vogue" e meninos bonitos, eu escolheria Vogue e amigas que fecham.

 Esta foi a minha jornada. Isto foi o que eu precisei passar para aceitar quem eu sou. É óbvio que eu ainda estou buscando as minhas respostas, mas uma coisa eu aprendi, não na vida e sim no final de cada episódio de RuPaul's Drag Race: If you can't love yourself, how in the hell are you gonna love somebody else? 

Para esses dois: Pensem nisso e deixem a bicha bichar! 

Can I get an amen? 





1 comment:

descolonizado said...

*palmas*

uma das melhores coisas que você escreveu desde que eu leio o que você escreve lá em 5.000 a.C.

texto leve, fresco e divertido. tô sem palavras. parabéns.