Tuesday, April 29, 2014

SOMOS TODOS COXINHAS


A questão das chamadas “minorias" vem sendo amplamente discutida no Brasil. Impulsionada pelas redes sociais, o foco passou a ser daqueles que, antes, não tinham vez: negros, mulheres e homossexuais encontraram na internet uma forma de fugir da mídia tradicional que propaga valores antigos e deturpa a visão da sociedade para certas questões; principalmente as sociais, chamando, por exemplo de “vândalos” os que lutaram por seus direitos nos protestos de julho do ano passado.


 Na tentativa de retomar os espaços que antes lhes pertenciam, eis que surge um grupo denominado “coxinhas”; pessoas que não sabem do que estão falando, mas falam mesmo assim. Tendo como mártir, líder e maior representante o apresentador Luciano Huck, têm como uniforme camisas Reserva (que tem uma linha exclusiva do supremo Huck) e usam de uma falsa simpatia para tentar fazer parte do que está em voga nos movimentos sociais espalhados nas redes.

 Recentemente, num episódio lamentável do futebol, um torcedor do Vilarreal atirou uma banana na direção do Jogador brasileiro Daniel Alves. O ato racista não é inédito e acontece inúmeras vezes em partidas de futebol, não só na Europa, mas ao redor do mundo. Numa atitude corajosa e  louvável, o jogador, com muito bom humor, comeu a banana e chutou o escanteio em um dos lances que levou à vitória do Real Madrid.

 A comparação de negros com macacos é estúpida, lamentável e existe há séculos. O homem branco se sentiu no direito de exterminá-los, escravizá-los e subjugá-los. Em 1906, um homem do Congo foi exposto num zoológico de Nova Iorque; na época cientistas afirmaram que ele pertencia a uma raça inferior à humana.

 Em apoio ao colega de time, o jogador Neymar, tirou uma foto empunhando uma banana, com o filho louro no colo e usando a hashtag #somostodosmacacos. (que soubemos depois, foi pensada pela agência de publicidade que cuida da imagem do jogador fora dos campos). Até aí poderia ser apenas um equívoco. Ora, se você diz “somos todos macacos” você está de certa forma admitindo que negros são sim macacos, mas não, eles não são. Ninguém é. Do ponto de vista evolutivo, no qual faço questão de dizer que acredito, nós e os macacos temos um ancestral em comum. É errado dizer que o ser humano veio do macaco. Não foi bem isso; nós, assim como eles, viemos de um mesmo lugar, mas, nenhum de nós, humanos, continuou macaco.

 Para piorar a situação do reforço do estereótipo que deveria ser negado, Luciano Huck tirou uma foto com uma banana ao lado da loiríssima mulher Angélica e usou a afamada hashtag. Somos todos macacos. Será? Será que Luciano Huck, sua mulher Angélica e seus filhinhos loiríssimos teriam bananas atiradas a eles? Será que Luciano e sua família, seriam “confundidos" com traficantes, e deixados mortos atrás de uma creche? Será que as pessoas olhariam torto para eles, caso entrassem em um shopping? Será que seriam arrastados por um carro, como algo sem valor?

 A campanha tem boas intenções, mas de boas intenções o inferno e a internet (talvez sejam a mesma coisa, pesquisar) estão cheios. Além do equívoco de “aceitar" a macaquice de uma raça, a coxinhagem de “descer" ao nível do discriminado, ao invés de elevá-los ao nível de igualdade e justiça, apenas demonstra que o Brasil ainda é um bebê em relação às causas sociais.

 Homens brancos não sabem o que é ser negro, o que é ser favelado, o que é ser julgado. É hipocrisia querer “fazer parte” desta questão tão séria. Não é colocando todos no mesmo patamar “abaixo” que seguiremos em frente. 

Como podem os mesmos que são contra as cotas raciais nas universidades federais alegando que “eles deviam simplesmente se esforçar mais e estudar como todo mundo” agora se dizerem “também sou assim”? Como podem as pessoas que são contra os projetos sociais, como o bolsa família, alegando que “deve se ensinar a pescar” agora dizer “sei o que você está sentindo”. Como pode a mesma sociedade que julgou a greve dos garis e não a dos médicos dizer “não se preocupe, estamos juntos”?

 Menos de 72 horas depois do caso e do surgimento da “campanha" Luciano Huck e sua marca, através da grife Reserva, começaram a vender com a foto de uma modelo loira uma camisa com uma banana estampada e os dizeres “somos todos macacos”. Pelo jeito, alguns macacos são bastante espertos na hora de usar de mazelas sociais para se promover, para parecer bonzinho, inofensivo. Mas não se engane: Nem somos macacos e nem somos bananas!

1 comment:

Antonio de Castro said...

Coxinha só é boa quando eu posso eliminar elas pelo meu intestino.

E a isso adicione Luciano Huck.