Monday, May 06, 2013

LIBERTÉ, ÉGALITÉ, FRATERNITÉ. SÓ QUE NÃO.



A máxima da revolução francesa já não mais se aplica. Os franceses - os mesmos da revolução, continuam a protestar em números assombrosos contra o casamento civil igualitário, que foi legalizado no mês passado. Os protestos tiveram início ainda quando o parlamento francês decidiu que era hora de avaliar a proposta, esta decisão já foi suficiente para deixar a população francesa em polvorosa, levando mais de um milhão de franceses às ruas para impedir a legalização. A França, país avançado, não permite que a religião interfira nas leis, não encontrou portanto, nenhuma forma de não legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo, se tornando portanto a 14ª nação a fazê-lo.

No Brasil dos moderninhos, do carnaval e do quadradinho de 8, eu me impressiono com a quantidade de gente além dos evangélicos que é contra o casamento civil igualitário. (notem que eu estou falando “casamento civil igualitário” e não casamento gay, pois, é só uma questão de ordem jurídica e a igreja não tem nada a ver com isso). O povo brasileiro acostumado com a dualidade moral, bebe, fuma, trepa, mas se perguntarmos uma opinião sobre o assunto acha errado, pois a Bíblia diz.

Mas o que leva tantas pessoas a protestarem contra algo que não interfere em nada na sua vida? O que leva as pessoas a protestarem contra o casamento dos outros? Protestar contra o casamento gay é como se levantar no meio da missa e dizer “olha, não case com esse ai porque ele é feio e você consegue coisa melhor”, ou seja: Não faz o menor sentido, afinal, você tem a sua vida para cuidar.

Acontece que temos a cultura do ódio impregnada na nossa cabeça. Veja bem, o casamento não é uma instituição sagrada como diz a bíblia desde que Henrique VIII deu seus pulinhos, saiu da igreja católica e criou o anglicanismo para poder casar com a Amante Ana Bolena. Moderníssimo, o rei fez em 1533 o que não se faz hoje em dia: interpretação de texto que o levou a questionar o que estava escrito na bíblia.

A humanidade teve que passar por isso inúmeras vezes e está passando de novo, mas ainda temos muita coisa a superar. Os direitos dos negros e das mulheres ainda são questões pelas quais temos que lutar em pleno século XVI e não se engane: Todo preconceito tem uma só origem.

Vejam bem o que diz a bíblia sobre a escravidão. Extraí apenas um trecho:

“Lucas 12:47 e 48 (Jesus falando) O servo que soube a vontade do seu senhor, e não se aprontou, nem fez conforme a sua vontade, será castigado com muitos açoites;48 mas o que não a soube, e fez coisas que mereciam castigo, com poucos açoites será castigado. Daquele a quem muito é dado, muito se lhe requererá; e a quem muito é confiado, mais ainda se lhe pedirá.”

Outro dia vi o Padre Fábio de Melo dizer que encontraremos na bíblia suporte até mesmo para o assassinato, cabe a nós decidirmos o que é válido para a nossa sociedade atual, afinal, o livro foi escrito mais de dois mil anos atrás, vale lembrar.

A questão é que em religiões proféticas, existe uma ideia de “prêmio” para aqueles que seguem as normas determinadas à risca, o que já causa conflito devido as inúmeras interpretações que podemos obter de um mesmo texto, por isso que temos tantas vertentes de uma mesma igreja, que se subdivide em várias vertentes, por exemplo, de igrejas evangélicas, desde aquelas que limitam até mesmo as vestes das mulheres, para as mas moderninhas que já liberam geral desde que você pague o dízimo.

O casamento igualitário incomoda, portanto, porque felicidade incomoda. Felicidade causa inveja. Felicidade incomoda principalmente para aqueles que seguem as tais religiões proféticas e que esperam o prêmio que nunca vem e sempre que tem seus “direitos” que antes eram exclusivos, sendo de forma justa atribuída a outras classes, fica revoltado. Um claro exemplo disso são os direitos das mulheres. Os homens não querem ter que disputar ou lutar por algo que supostamente já era deles, isso vale até mesmo para a mulher em si; muitos homens ainda hoje acham que tem direito a ter qualquer mulher que ele deseje, este principio, todos sabem de onde vem, e resulta em estupros e na ideia estúpida de que se uma mulher age ou se veste de certa maneira, isso dá liberdade para que o homem a possua.

Se seguida ao pé da letra, de acordo com os Felicias da vida, a bíblia só garante direito ao homem branco heterossexual, ou seja, quase ninguém.

O que me incomoda mais neste caso, é que, se legalizado, o casamento igualitário não tira direitos de ninguém, apenas atribui o direito (jurídico) a pessoas que antes não contemplavam de tal liberdade.

O assunto vem a tona e o desespero do lado de lá aparece quando a derrota é iminente. É preciso entender que nem todas as pessoas são religiosas, ou vivem de acordo com tais dogmas. É preciso entender que homossexualidade não é escolha, mas religião sem questionamento é. E que portanto, se você quer viver de acordo com tais regras, siga e vá em frente. Eu, particularmente, acho louvável que uma pessoa faça parte uma congregação, que tenha fé.

Mas a fé tem se modificado. Não se fala mais em bondade, se fala mais em inferno, em punição, se fala em prêmios, em ter carros, casa, dinheiro. A religião parou de ser comunitária e se tornou individualista e capitalista. Este individualismo é causador do ódio a tudo aquilo que não se entende. Veja o caso abaixo, deste exemplo de amor cristão:



Este tipo de pensamento é o que tem afastado algumas pessoas das igrejas mais radicais.

Neste outro exemplo, o Daniel resumiu com bastante ironia o pensamento de felícias e sua turma:


A mensagem que eu quero deixar é a seguinte: Viva como quiser, mas deixe que os outros façam o mesmo. Lembre, que um dos dez mandamentos fala em não julgar ao próximo (acho que esqueceram desse) e tente superar o que é diferente. Caso não goste ou seja contra, viva sua vida e apenas a sua. 

Isso me lembra que as batalhas são longas, mas a história nos mostra que a razão demora, mas não tarda a vencer. E daqui a uns 60 anos, vamos lembrar de tudo isso e nos orgulhar de termos vivido mais essa vitória.

1 comment:

Mariana Tavares said...

É como sempre falam daquelas passeatas conta o voto feminino e contra a inclusão de negros nas escolas. Um dia aquilo foi considerado o "correto".
Aliás, uma matéria bem interessante e que também pode se encaixar nos assuntos que discutimos hoje:
http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-62/anais-da-fotografia/odio-revisitado