Tuesday, April 30, 2013

ESTE INFERNO SOU EU

Eu sou como este mês de abril; hora chove e você acha tudo lindo e pode ficar deitadinho enrolado no cobertor, com aquele sorrisinho besta que a gente fica quando se protege do frio. (Não é o mesmo quando a gente se protege do calor, não há risinhos ai), mas de repente faz um sol da porra e você fica puto e tem que ficar de cueca pela casa e tomar uns seis ou sete banhos. Talvez vocês não sejam nordestinos e não saibam o inferno que é maio e a cidade para e nem está chovendo tanto assim. Eu sou este inferno.

Seis meses sem sair de casa e comportado e papai e Dr. Gostosão fizeram um complô. Papai “terminou” comigo. Por mais bonito que seja a nossa amizade não é muito saudável. Dr. Gostosão insistiu que eu saísse. Liguei para o meu companheiro de fígado e fomos para o nosso bar.

Seis meses sem sair de casa e eu não perdi a velha forma. Já comecei brigando com os jovens. Os jovens Dimitri! Os malditos jovens com suas peles boas que eu morro de inveja, querendo chocar a sociedade by se vestir que nem o vovô e a vovó e cantar alto músicas e dizer “lembra?” – Não, tu era um embrião, não lembra.

Os pobres jovens, nada tem a ver com isso. E são muito, muito melhores do que eu, que não me comporto em público. Foram seis meses sem sair de casa e eu já dei vexame e confusão. Mas porra, este sou eu! Este inferno sou eu! E as pessoas querem pagar de loucos, mas poxa, até magra, que é a flor mais delicada do meu jardim, em plena sapatilha com fitilho amarrado no tornozelo depilado, já saiu de uma festa dando dicas de cremes e cuidados para a pele para pessoas que claramente nunca foram alertadas sobre a invenção do sabonete. E ainda tentou pagar o táxi com a carteira de motorista, pobre magra.

Os jovens são melhores pois eles ainda tem uma inocência em si. E a pele ainda é boa e o coração é inteiro. E o no meu tempo ninguém tinha cabelos tão legais e nem tudo era permitido, mas eu sou macaco velho. Eu bebo, eu caio, eu dou vexame, eu brigo e esqueço que briguei e abraço e choro e já nasci carrancudo e de olheira.

Acho que quando você acorda no meio de uma suruba num apartamento estranho e decide voltar a dormir acabam suas esperanças de ser uma pessoa boa.

Talvez eu nunca tenha sido verdadeiramente jovem e bonito, mas desde a semana de arte de 1922 que eu vivo nesta rotina de vexames e reclusão, Amanda Bynes do nordeste, depressão e fim. Ai você come tudo que tem pela frente e chora ao ver uma barriga reta e eu sou este inferno.

E o que eu sei é que: Não adiantam os esforços de Dr. Gostosão, eu fujo da paz! Se estiver tudo bem, pra quê eu vou me levantar? Pra que acordar todos os dias se não for para limpar um pouco da merda que você fez? Eu já tive a vida mais que perfeita, mas eu sou este inferno e a joguei fora. Precisei acabar com tudo, mas estou de sobreaviso. Magra me mandou um corvo e desde já parei de comer para bebermos de estômago vazio e mais uma vez passarmos o vexame que nos mantém vivas e vergonhosas.

Não sei vocês mas o vexame ainda é o melhor creme anti-idade que encontrei. Então, apesar das olheiras ainda me encontro vivinho.

Mas por enquanto Dr. Gostosão receitou mais sumiço e esperar que as coisas se resolvam sozinhas. Uma arte que domino.

Magra, perdão, te amo.

1 comment:

Mariana Tavares said...

É bom ler os seus textos e ir reconhecendo os personagens. Também amo a magra e ela faz muita falta.
Ah, e boa sorte com o sumiço.