Sunday, February 17, 2013

O PLANO DE FUGA


Desistiu de tudo que tinha: Casa, amigos, cachorro, família e emprego, vendeu tudo que possuía, o carro, o computador, o apartamento. O cachorro deu pro vizinho que já tinha uns três labradores e disse que não seria problema cuidar, quis saber o que era, o que ele ia fazer, achou estranho, Dimitri sempre foi um cara normal, quieto, mas não falou nada, apenas disse que precisava resolver algumas coisas. 

 Comprou as passagens mesmo antes de decidir tudo, na verdade já sabia. Estava planejando a fuga desde que tinha uns 12 anos e o primeiro amiguinho da escola tinha ido embora morar nessa cidade idiota que era São Paulo. Tinha criado um ódio mortal pela cidade, não tinha vontade de ir nem pra conhecer, ouvia muito falar em São Paulo e nas oportunidades da área de comunicação; “tá tudo lá cara, tem que ir pra lá”, mas ele ia provar que não. E então começou a planejar sua obra prima.

Planejar era um talento e tomava grande parte do seu tempo.
Planejar era uma coisa, colocar os planos em prática era outra.

Lia todo tipo de merda e sabia, por exemplo, como sobreviver na selva, para o caso do avião cair, ou de se perder ou de ser seqüestrado pelas FARC, coisa que nunca aconteceu, mas caso acontecesse ele se sairia bem. Tudo fazia parte de um plano maior, uma verdade absoluta que era: Ele precisava ir embora.

Antes de ir embora foi terminar com a Alice que namorava tinha quase dois anos. Falou pra ela que não tava feliz, que precisava de umas mudanças, ela chorou, mas tudo fazia parte de um plano maior e ele precisava fazer aquilo, e ele devia ter dito pra ele, mas ele fora um bosta e falou que queria que ela mudasse pro AP, a coitada ficou super feliz e sugeriu umas reformas e ele pôde jurar que ouviu ela falar sobre um bebê chamado antônio. 

não fez as malas. Não havia o que levar. Fez questão de deixar todos os documentos escondidos, quem sabe um dia ele viesse buscar, mas acreditava que não. Seria impossível para alguém achá-los, ele tinha planejado muito bem o esconderijo. (levou dois meses para descobrir o lugar perfeito).

Passou dois meses procurando e comprou uma certidão de nascimento, descobriu que vendiam, tu podia ter o nome que quisesse, podia ter nascido onde quisesse, mudou para a cidade que amava e adotou o nome de Antônio, igual ao bebê da Alice. Achou por um breve espaço de tempo que gostava da Alice, será que eles teriam sido felizes? Ele, ela e o bebê Antonio? O pai ficaria feliz pra caralho de ver o netinho, o pai sempre quis ser avô mais do que tudo no mundo.

Mas não era o bastante.
Dimitri, agora Antônio se mudou, deixou a barba crescer, depois de uns seis meses fez uns dreads. Fazia parte do plano e aprendeu a fazer colares e brincos usando linha e fio de cobre, vendia na praia, lá, fazia tererê nos turistas vermelhos cheirando a sundown. Era sempre muito simpático com todos e virou figura conhecida da orla, era até respeitado.

Voltava pra casa com uns 30 conto, 50. Já teve dia de chegar com 100, comprou até umas cervejas nesse dia. Quase nunca lembrava que tinha uma conta com mais de 200 mil reais da venda do apartamento, o que será que aconteceria com a tal da conta? Será que o buscaram? Não procurou saber de notícias. O que interessava era que Dimitri estava morto e o plano dera certo.

Tinha encontrado uma morena chamada Cláudia. Fodia bem mas era barraqueira. Passou a morar com ele depois de um tempo, fazia café de manhã e depois saia para a loja de roupas que ela trabalhava no centro. Não contava pra ninguém que tinha caso com o tal do Antonio do morro, mas a galera já sabia.

Vai não vai pensava em Alice.
Achou, por uns segundos que ainda gostava da Alice.
Nunca pensou em voltar. 

1 comment: