Tuesday, February 19, 2013

POR QUE "LOPANEAR" INCOMODOU TANTO

 - É a última vez que falo sobre o assunto e peço que leiam a coisa toda antes de sair esculhambando. 


 Por que lopanear nos incomodou tanto?
 Eu juro por uma McOferta que eu não ia mais falar sobre esse assunto. Na minha opinião, isso já deu mais do que tinha que dar, já passou, e era pra ter sido só um vídeo, mas foi mais além. 

 Para quem não sabe, alguns artistas Alagoanos se juntaram e criaram uma música chamada “Maceió meu bem querer” e fizeram junto um vídeo que pode ser visto no Youtube. O que acho? Maravilhoso! O vídeo é lindo, muito bem feito, muito bem editado, a fotografia é fantástica e mostra o que há de mais bonito em Maceió. A música é animada e bonita, uma bela homenagem a nossa terrinha.

 Então o que deu errado?
 O verbo.

 Um recém criado verbo, inventado por um dos compositores da música. 
 É ofensivo? É errado? Não, nada disso.

 O que acontece é que quando você, mero mortal vê o tal vídeo, e depois da beleza e da bela produção em algum momento você para para pensar “Eu moro em Maceió e nunca vi isso na minha vida”. 

 O tal verbo; “lopanear” apenas significa freqüentar o Bar Lopana, o melhor da cidade (até onde eu sei) e era pra ser uma coisa linda e alegre, assim como no vídeo, porém, esta palavra deixou clara uma coisa que todos nós sabíamos e ninguém queria dizer: Maceió tem dono e os donos não somos nós.

 Os donos de Maceió são os tais usineiros, os tais políticos, os adolescentes riquinhos que tem dinheiro para pagar advogado, os que compram as roupas originais quando a gente só compra a cópia, os que tem as coisas antes  mesmo de chegarem no Brasil.

 Não estou dizendo aqui que os compositores e produtores do video estáo envolvidos com isso, ou fazem isso. Na minha opinião eles estão de parabéns. Eles fizeram uma coisa que ninguém teve coragem de fazer. Eles inovaram (que convenhamos, nunca é bem visto por essas bandas do Texas). Eles fizeram talvez uma das coisas mais difíceis de se fazer nesta era da informação e das redes sociais: Exaltar o lado positivo das coisas. (Eu particularmente, reclamo demais e tenho a maior dificuldade em ver o lado positivo).

Mas este verbo, este verbinho, esta brincadeirinha de palavras, este vídeo lindo, essas pessoas bonitas que eu nunca vi, aquelas lanchas, aquele óculos de sol espelhado deixaram mais clara uma linha que a gente fingia não ver, que a gente achava que tinha sido apagada, que a gente jurou que não existia, que era lenda, que era besteira. A linha que separa quem pode e quem não pode, uma linha que faz parte da nossa história e da nossa cultura. Que definiu o que é ser Alagoano durantes os séculos de existência desse estado que nasceu do “jeitinho brasileiro” de dar jeito das coisas. Nós somos resultado de uma punição contra o estado de Pernambuco. Nós somos um castigo. 

 O que eu quero dizer e de que lado eu estou? Volto a dizer que o significado adquirido para a palavra “lopanear” não é culpa dos compositores, diretores e produtores da música e do vídeo. É algo que aconteceu por parte da nossa cultura, a gente sempre deu um jeitinho de separar, de querer ser mais pro lado de lá do que pro lado de cá, de usar camisa holister e beber whisky na conta dos outros. Eles mostraram o lado deles e fizeram isso muito bem. É sim uma Maceió que não é nossa, mas eles não iriam saber.

O que quero dizer aqui é: Por mais que exista uma linha que nos separa, a tal da faixa de Gaza (pior nome não poderia haver para a capital mais violenta do Brasil e terceira mais violenta do mundo), o que importa é que não importa em que lado da linha você está, você sempre pode “lopanear”, seja lá o que isso signifique pra você. Desde que signifique uma coisa boa. 

1 comment:

Filosofia Esquimó said...

"Nós somos um castigo" muito bom o texto, impressionante como um verbo recém criado pode trazer a tona toda uma tradição de monopólio e poder que na verdade só se transforma por fora mas a essência é a mesma. "Eu vejo o futuro repetir o passado" diria o artista poeta e o museu das grandes novidades.