Wednesday, January 23, 2013

PRÉDIOS

Na minha cidade prédios e mais prédios e a cada dia aparece, quase que do nada, um novo prédio com nome afrancesado, difícil de pronunciar, complicado pra pedir pizza. De onde vem tanta gente? De onde vieram tantas famílias?

Na minha cidade, mais pobre do Brasil, prédios e mais prédios com piscina, playground, espaço gourmet, três vagas na garagem e de onde veio tanto dinheiro assim? Quem são essas pessoas que vivem empilhadas uma sobre as outras?

Riqueza é hereditária.

Uma menina rica casa com um menino rico e tem filhos ricos que vão crescer, estudar nos melhores colégios. As meninas vão ter uma festa de 15 anos num lugar enorme cheia de gente que ela não conhece, elas vão ficar mais velhas e vão ser enganadas pelos filhos dos ricos, que vivem sob a lei da vaquejada, onde homem que é homem não chora, não apanha não se prende, não ama. Homem que é homem tem que ter a esposa para as aparências e a rapariga para a cama. Orgulho de papai e de mamãe, formado em direito ou administração sem nunca ter se excedido em nada, mas sendo bem sucedido através dos contatos de papai, que o colocou no mundo, no mapa e num apartamento novinho com piscina, playground para os filhos gordos; um deles, com um jeitinho de viado que já causa controvérsia na família e deixa o pai envergonhado e preocupado, mas quando ele fizer 15 anos, papai o levará para um puteiro, como foi feito com ele, corrigindo assim este “defeito”.

Os meninos são educados pela lei do cão, da camisa pólo, do whisky com red bull, do carro cheio, do dirigir bêbado, do “papai é juiz” e as meninas perdem a alma logo cedo. Numa sexta feira a noite, você as verá: Seus cabelos, um reflexo de sua alma: Lisos, contidos, sem cor e sem brilho, todas iguais, com aquele olhar de desespero, de procura, de quem precisa de ajuda; alguém as tire dali!

Um dia ela encontra um lindo e juntos eles são lindos, até que decidem se casar e se entregar engordam e já não tem mais aquele brilho nos olhos, os olhos estão mortos de cansaço, um bebê! Um bebê gordo e saudável, mas um bebê! E tudo cheira a vômito e choro e arrependimento. Ele já não a quer mais desde que ela engordou e os peitos caíram. Ela não tem mais tempo de depilar as pernas, ele não tem mais tempo de ir para academia, mas “mulher não liga para essas coisas” ele tem uma barriga redonda, mas ele tem um carro do ano e pelo menos umas duas, três putas por mês que a mulher finge que não sabe, mas são as “aparências” e “o que eu vou fazer agora que estou velha e ninguém mais me quer”.

Foi-se a vida, foi-se a vez. As pessoas estão enriquecendo, graças a deus ou ao programa do governo e agora você pode comprar um apartamento e um milhão de vezes com financiamento e tudo na sua cara e ai vem os novos ricos, ao menos mais felizes, com som alto e adesivo da família feliz no carro.

Na minha cidade prédios, luzes e assassinatos. Todo mundo sabe; é a mais violenta do Brasil, a terceira mais violenta do mundo, mota-se mais por metro quadrado do que na guerra. Mas no alto do prédio novo, na piscina ou no playground, pensando na puta ou no corpo que costumava-se ter, ninguém nem pensa nisso.

1 comment:

Filosofia Esquimó said...

Incrível. Eu não consigo ser tão claro, sou sempre confundido com algum bêbado ou drogado falando de moralidade, mas na essência eu eu penso assim.