Thursday, January 03, 2013

A ORDEM DO CAOS


A noite, na hora de dormir, me vem um aperto na garganta. Viro para o teto e ele vem descendo na minha direção, baixando, baixando, e eu o percebo mas nada faço. Encaro o meu destino com o pouco do orgulho que me resta. O nó aumenta, eu não consigo respirar, eu viro de costas para o teto e espero a morte que nunca vem. Pior que a morte é a tortura.

A dor, dor física é boa. Ela te lembra de que você está vivo e quando passa você é grato. A dor psicológica te lembra de que você pode morrer que você vai morrer, que um dia isso tudo vai acabar e os seus parentes não vão saber o que fazer com os seus livros do Potter, com o seu computador, com o seu histórico vergonhoso, com a dor deles.

Que fique bem claro que a minha coleção do Harry Potter deve ser jogada em cima do meu caixão e enterrada comigo; se houver outro lado eu a levarei. Meu computador pode ficar com qualquer um, mas sugiro que formatem antes de usar, caso não queiram se surpreender com umas pornografias violentas.

Mas você não morre.
Você não morre e a dor psicológica passa a te lembrar de que você vai ter que passar por isso e que a morte, nessa situação é só uma fuga idiota, as pessoas doariam os livros e você não saberia de nada, pois, muito provavelmente, não há nada, não há outro lado e você vira pó e caveirinha.

Então a fuga mais plausível: Álcool e uma passagem comprada de última hora para a cidade que você mais ama, um cartão de crédito que você nunca vai pagar, uma carteira de cigarros, e vá, mas cuidado com as festas.

Mas tem outro problema com a dor psicológica: Não há remédios, não há sono, não há cachaça, só há a culpa e o caos. O caos que você criou, que você se meteu, que você quis, que você preferiu no lugar da paz que você tinha, o caos. E quando você ama o caos, ele nunca é o bastante, então você bebe, você chama alguém de cuzão, você vai embora e agarra o cara com jeito de alemão e vai comê-lo na escada do prédio, pois no caos não há tempo, mas ele te chama pra entrar, pra dar mais uma, pra beber um pouco mais e é o caos e você vai.

Tem agulhas no banheiro, pó nos cantinhos do centro e a foto de uma criança na mesinha do telefone. Há chaveirinhos de vários lugares do mundo, há uma imagem de Nossa Senhora e ela olha para você e sorri. Sorri um pouco, olha para o lado, para a estante de livros e o primeiro livro que você se depara é “O mundo de Sofia” você olha para ela, ela acena com a cabeça.

Pega o livro quando ele está no banheiro - Eu queria o chaveirinho da torre Eiffel, sempre quis um, mas conseguirei da maneira certa! Um dia eu vou para Paris e compro o meu chaveirinho com o meu dinheiro! – abre a porta e sai pela rua afora, o sol está começando a aparecer no horizonte da cidade mais linda.

São seis horas da manhã e ainda assim nenhum sinal de que você vá dormir.
Mas há o livro, a fuga saudável e o conforto da cama. Mesmo que o teto caia sobre a sua cabeça, você viu a santa sorrir e fez o possível, mas não tem como fugir da loucura que você tanto ama.Que você tanto chama. Que você não consegue viver sem. 

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