Wednesday, November 14, 2012

PESSOAS NÃO SÃO MEMES

- Para ler ouvindo Ed Sheeran 

Não se presta atenção em mais nada. Ao menos nada que leve mais do que três minutos; nada que tenha mais de 140 caracteres, nada que não seja uma foto enorme com um texto curto por cima. Não se presta atenção em paisagens, textos, fotos, quadros, - tudo digerido, mastigado – ao alcance do polegar, que na era dos smartphones é mais usado do que nunca.

Não se sabe mais de nada, ninguém é conhecedor de porra nenhuma; não tem tanto tempo assim, algumas pessoas sabiam tudo que havia de se saber sobre alguma coisa, de vinhos a civilizações antigas, enquanto hoje, o pouco que sabemos, sabemos decorado em algumas sentenças chave para esfregar na cara daqueles que não sabem. Igual quando tu não sabe porra nenhuma de moda e as pessoas ficam falando sem parar sobre o nome dos estilistas e todas as tendências e tecidos e você tenta explicar: “Bicho, sei nada disso” mas o cara continua a jogar nomes na sua cara e “como assim você não conhece?”, “Man, eu num sei nada dessa merda” e ele continua falando que o fulano de tal uma vez fez uma roupa de papel que rasgaram no final e todo mundo, TODO MUNDO, chorou porque rasgaram uma porra de uma roupa de papel e eu imaginando as peruas em lágrimas e se abraçando, catando os restinhos dos pedacinho de papel, “Man, não sei, nunca vi vestido de papel”.

Eu devia saber dessas coisas, eu sou jornalista, (ou pelo menos era) e deveria saber de todas as coisas que se faz e que falam, mas eu nunca sei de nada. Nem quem morreu e nem dos memes, até porque, hoje tudo vira meme, nada é levado a sério e do nada tem mais alguém numa foto com helvética na cabeça “FAZ VESTIDOS LINDOS DE PAPEL – RASGA TUDO NO FINAL” .

Não bastasse isso reclama-se de tudo e não se faz nada. Criamos uma geração de mimados que vivem de falar mal do que não controlam sentados em frente ao computador, registrando cada movimento, esperando o primeiro erro, o erro a virar meme, os caçadores sanguessugas da falha humana; uma geração inteira se estapeando, se apunhalando pelas costas no primeiro sinal de humanidade, de alguma imperfeição. Pessoas comuns posam em frente a casas abandonadas, meninos ricos comprando máquinas fotográficas analógicas, tiram fotos das amigas bonitas e sem alma, sem vida, sem um arranhão, a pele perfeita, o cabelo tratado, os dentes retinhos, jamais entraram em um ônibus, coração inteiro, nunca sofreu nada, mas já cantou junto com Adele, forçando as lágrimas para tirar foto do olho encharcado e postar a imagem com trecho da letra “nevermind I’ll find someone like you” sobre o romance que não durou uma semana e que ninguém nem mesmo sabia; os amores não duram, não temos tempo para entender ninguém. Pessoas duram mais do que três minutos, pessoas não são memes, pessoas não vem mastigadas, pessoas não são aplicativos, não se apaga quando encheu espaço, pessoas são pessoas, são seres humanos, pessoas erram e de perto não são bonitas e os olhos já são meio cansados, e a nuca dói de stress e tem olheira embaixo do olho, ninguém depila mais porra nenhuma; não dá tempo, pessoas não gostam das manhãs e não tem mais tempo pra ler e não vai dar pra fazer nada no sábado porque temos que trabalhar.

Nunca mais ninguém olhou diretamente para ninguém sem ser por uma tela de led.

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