Tuesday, September 25, 2012

DE CORPO E ALMA EM CANTO NENHUM


Há os ricos
E os ricos já nascem ricos e ficam cada vez mais ricos, pois os novos ricos, classe média emergente, pagam para estar com os ricos, como os ricos, fazendo o que eles fazem, comendo o que eles comem, bebendo o que eles bebem e principalmente; tratando as pessoas como merda da maneira que eles mais sabem fazer.

 Um ódio que não é meu me dominou.
 Um ódio da classe das putinhas que nunca na vida deram um dia de trabalho, mas se vestem bem e lamentam em seus iPhones que a semana vai ser corrida, sendo a única carreira que possuem a carreira de pó que um amigo comprou e levou para elas na faculdade de direito caríssima, que elas só frequentam para desfilar seus vestidos em uma produção que deduzo eu deve levar algumas horas antes de entrar em uma sala de aula e ficar curtindo status vazios no facebook.

 Um ódio da geração que ama objetos, como se eles tivessem surgido da luz de Deus, em um momento de especial motivação e inspiração do senhor: dois mil e quinhentos reais porque lançaram o modelo novo, um botão novo, mais fino que o outro; dois mil e quinhentos reais do dinheiro de papai para não ser confundido com os outros, papai não vai querer que as pessoas pensem que a  gente não pode, papai traga pra mim na sua próxima viagem para que eu possa lamentar o quanto a semana vai ser corrida, socorro papai.

 Os ricos andam em tribo, eles inventam mil coisas para não ser você, o celular caro e mais de 100 reais numa camiseta básica “dessas de ficar em casa”com a desculpa de que a costura, feita de máquina e linha, é de certa forma melhor, mas nós sabemos que o melhor é a etiqueta, o nome na etiqueta, o monograma na etiqueta, a etiqueta que hoje em dia vem pra fora, em CAIXA ALTA ESCRITO NO MEIO DO PEITO e com a gola levantada, escrito na cueca, em cima de suas pintinhas cheirosinhas a talco da mamãe,  escritos no cós da calça para as (os) poucos (as) sortudos, roupa básica, de passar no cara que repassa e pedir mais umas pedras, as mina pira, os mano pira, ninguém nunca mais falou o plural, qual o preço da bolsa, onde comprou, não, não estava em promoção, conheço a gerente.

O gerente esta figura lendária, o vilão dos valores da classe operária, o gerente da loja de luxo, nem é rico nem pobre, o único que consegue entrar nos meios mais ricos ainda pegando ônibus, usando as roupas que comprou com desconto de funcionário e sendo um filhodaputa com seus subalternos, rindo da cara dos empregados, julgando quem pode e quem não pode comprar o quê, reservando secretamente a mesma bolsa para mais de uma puta.

 Depois que acaba, as putas, assim que saem da loja, riem dos sonhos do pobre gerente, que trabalha sábado, domingo, feriado e dia santo,  mas o instinto de sobrevivência, este instinto que o faz pensar que dias melhores virão, mas eles nunca, nunca vem, a não ser que seja sexta e você possa expor sua figura no lugar da moda, onde todos tem a mesma pose, a mesma roupa, a mesma chapinha do mesmo cabeleireiro exclusivo e desde a invenção do smartphone ninguém nunca mais conversou com ninguém nem mesmo olhou ninguém nos olhos, o importante é deixar o mundo saber onde você está, com quem você está e o que você está fazendo no lugar onde todos estão e mais ninguém pode estar, mesmo que  de alma você não esteja mais em canto nenhum.

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