Monday, August 30, 2010

Suck my soul!

Lembro me bem do primeiro pau que chupei. Era grande e rosado, tinha aquele cheiro caracteristico que os paus tem e no começo eu estava muito sem jeito e com um pouco de nojo, confesso. Porém quando vi o dono do pau se contorcer, gemer e falar "isso, chupa", eu sabia exatamente o que eu tinha que fazer, - e fiz.

Foi então que eu descobri: Eu tenho um talento; um dom para essas coisas e desde este primeiro contato com o mundo mágico do sexo, nunca mais parei.
Meu primeiro amor tinha o pau rosinha e lindo e era bom de chupar e ele adorava que eu fizesse e eu adorava fazê-lo e fazia muito bem.

Não consigo conceber uma pessoa (a não ser um homem heteressexual ou uma mulher homossexual) que não goste de chupar paus. É mágico, é o seu momento, é o seu show! Muita gente acha que é algo submisso, eu acho que é justamente o contrário. É como se toda uma platéia estivesse ali, te adorando, te admirando, te encorajando e achando aquilo tudo muito bonito. Você tem o poder entre os lábios e você deve usá-lo da maneira certa.

Aprendi com a escritora francesa Lollita Pille uma técnica muito interessante usada por sua personagem Manon D. É simples, isole o pau, esqueça o homem. Concentre-se naquilo, faça daquilo uma missão, um propósito, ou ao menos uma razão para não dar um tiro na cabeça nos próximos 5 ou 7 minutos (se você fizer tudo direitinho).

Com a prática veio a perfeição. Meu talento estava sendo reconhecido, as pessoas me adoravam, pediam mais, e eu, claro, não negaria jamais! Fui extendendo o meu dom também para outras áreas e acabei por descobrir que sou muito bom de cama em qualque circunstância ou posição em que eu me encontre. Acho que o sexo está no meu sangue; eu havia encontrado algo em que eu era realmente bom e estava praticando.

Quando você é muito bom em algo, como pintar, cantar, ou fazer equações, você quer se desafiar, descobrir até onde você é capaz de ir; e foi exatamente isto que eu fui descobrir.

Homens, mulheres, dois homens, um homem e uma mulher, lugares, posições, festas, eu já começava a ser conhecido pelas pessoas. Eu era um monstro do sexo, um bicho selvagem que estivera engaiolado por tanto tempo. Sexo era o que me libertava, era o que me movia e era o que eu gostava de fazer para as pessoas. Gostava de vê-las loucas, gritando, gemendo, agindo feito seres primitivos, sem escrupulos. O sexo pode trazer o que há de mais nojento em um ser humano e isso pode ser muito bom.
Eu pensava em sexo o dia inteiro.

Meu segundo amor usou meu coração como cinzeiro. Usou minha mente como calço para mesa.

Durante muito tempo, meu talento foi só dele. Eu me dediquei só a ele. Meu segundo amor era lindo e tinha os pêlos mais perfeitos que o mundo já vira. Meu segundo amor parecia projetado para mim em todos os sentidos. Do pelo do peito a grossura do pau, da barba por fazer ao gosto musical.

Faziamos amor e fumavamos maconha e era só isso. Nos internavamos em qualquer muquifo da cidade, dormiamos em colchonetes furados em motéis de paredes finas, onde ouviamos os casais feios e nojentos fazendo o que tinham que fazer, e nós faziamos mais bonito e gritavamos mais alto e podiamos viver por dias apenas de bebidas alcóolicas, maconha e amor.

Meu segundo amor um dia me disse que não tinha mais vontade de me beijar.
Meu segundo amor um dia, me trocou por todas as pessoas da cidade mais linda do mundo.

Quando ele foi embora, levou minha alma, minha vida, meu talento e eu soube, no momento em que o vi entrando naquele ônibus que eu nunca mais o veria e que nunca mais teria de volta o brilho, a vida e o fogo que um dia já tive.

Certa vez ele me disse que os meus olhos eram capazes de fazer qualquer pessoa pensar imediatamente em me levar para cama. Eu sabia que iria demorar muito para conseguir esta façanha novamente.

Uma estrela se apagava.
Um talento desperdiçado.
As pessoas falavam de mim com certa nostalgia.

Meus olhos cansaram, eu já não tinha alma. Me dediquei a emagrecer e parecer o mais repugnante possivel. Li os clássicos, fumei ainda mais, bebi muito, fingia que estava alegre e vez ou outra tentava de novo, apenas para ver se alguém ou algo traria de volta o melhor de mim, aquilo que eu podia fazer, aquilo que me libertava e que me deixava tão feliz.

Não.

Era tarde demais e eu pesava pouco. Minha boca estava seca, meu corpo não tinha carne, eu fedia a cigarros, dor e arrpendimento. Fui ficando cada vez mais magrinho, fui sumindo, desaparecendo no colchão da minha casa, do meu quartinho. Fui me juntando a poeira dos móveis, me espalhei por cima dos livros no chão e dos discos que estavam intocados em cima das prateleiras. Por ali me acomodei durante um ano.

Um dia, soube por um passarinho que o meu segundo amor havia morrido. Atiraram nele ou algo assim. Tudo o que soube foi que alguém atirou naquele peito que um dia tanto amei e que ele se fora a caminho do hospital.

Chorei por um dia e um dia apenas. Varri o quarto no segundo dia. No terceiro passei um pano úmido no chão, nas paredes. No quarto dia organizei os livros e os discos, coloquei um do red hot chilli peppers e juro que senti vontade de dançar. No quinto dia acendi um cigarro e fiquei olhando pro teto. No sexto dia comecei a sentir algo em mim, como se eu estivesse efervecendo, borbulhando por dentro, comecei a sentir as pontas dos dedos, depois as pernas e os antebraços e foi seguindo assim até que senti uma pontada no peito e eu sorri. Uma lágrima desceu pelos meus olhos. No sétimo dia eu sai para beber e nunca mais voltei.

Disse a mim mesmo que jamais deixaria que ninguém me roubasse de mim mesmo de novo. Destruam meu coração e quebrem meus dentes, me chutem no saco, mas nunca mexam na minha playlist!

Saí pela rua com os meu fones de ouvido olhando em um ponto fixo. Meus olhos estavam prestes a pegar fogo e eu sentia isso. Fui em direção ao lugar em que eu me sentia tão bem e tão vivo.

Caras de surpresa ao me ver. Algumas pessoas felizes, outras muito tristes por me ver de volta. Alguém puxa uma cadeira e pede uma cerveja. A pessoa, da qual eu tenho uma vaga lembrança me pergunta quais são as novidades.
Eu simplesmente o olho nos olhos. Só isso. Senti ele tremer.
Eu estava de volta.

8 comments:

Unknown said...

lets dance baby!

Léo said...

Incrível.

raph. said...

Adorei!

Narrativa rápida, correndo. Parece um orgasmo, na verdade.

Adorei

Antonio de Castro said...

a gente sente a sua falta.

Goiano said...

hahaha ja usaram meu coracao como calco e minha mente como cinzeiro... meu amor foi embora e se casou... me mandou um convite e eu fui lá e dormi com padrinho...
o padrinho era irmao da noiva...
a minha mente eu tomei de volta ... o coracao ainda equilibra uma mesa lateral qualquer... tomara que eu tenha de volta a porra do coração...

instiga-me said...

Que delícia ler o seu texto!!!
Vc tem uma percepção tão ímpar de tudo...
Eu ia lendo e ia me angustiando. Depois, ia me alegrando. Parecia um final de baile: a música lenta colocada em penúltimo, e a melhor, tocada no final!
E é isso: talento é talento!
abç

Cais da Língua said...

Você só não perdeu o talento pra escrever, continua mó fodão!
bjo bruninho

Cais da Língua said...

Você só não perdeu o talento pra escrever, continua mó fodão!
bjo bruninho