Monday, December 11, 2006

Cagando e andando.

Olho no espelho e decido que tenho que cortar o cabelo! Não dá mais pra conviver com tanto volume em minha vida. Adios cachos! Resolvo ir na ponta verde cortar os cabelinhos, mas ao chegar lá descubro que o meu cabeleireiro se vendeu ao mundo capitalista e hoje cobra 22 reais pra cortar os mesmos cabelos que ele antes cortava por dez. “Desculpe, mas se eu pagar 22 reais e não sair daí parecido com o Orlando Bloom, eu te mato”! Então eu decido ir cortar o cabelo no centro, numa mulher que o Herbie me ensinou que corta por sete reais e é super estilosa! Resolvo deixar para o outro dia, afinal tenho que buscar uns exames médicos no centro, mato dois coelhos em uma cajadada só! [Espero que a PETA não fique sabendo sobre isso].
Eis que no outro dia eu fiz o impensável! [Considerando a intensidade do sol era impensável mesmo] andei até o centro! [pra quem não sabe eu moro perto do shopping Farol].
Sai de casa e fui andando até a esquina pra chegar na Fernandes Lima, e me deparo com as costas do homem mais esquisito da vizinhança! Um coroa gordinho de cabelos cacheados até a nuca, presos por uma tiara. Ele usa camisetas sem manga, óculos redondissimos e anda como uma top model prestes a perder o vôo! E nesse dia eu percebi que ele cheira a cabelo! O vento passou por ele em minha direção e eu senti aquele cheiro de cabelo cinza! De repente parecia que as paredes das casas eram feitas de tranças enormes de cabelo cinza. Respirei fundo pra ter certeza e sim! Era cheiro de cabelo cinza, se você tivesse sentido saberia que era cabelo cinza!
Fiquei imaginando se ele era o papai Noel. Será? Acho que o papai Noel lava os cabelos nessa época do ano.... Acho....
Daí eu fui em direção ao consultório onde eu fiz o exame de sangue [esse era no farol mesmo] e quando cheguei lá me deparei com uma coisa... Não sei se era homem ou mulher, mas com certeza estava de mau humor. Nunca tinha visto uma travesti de mau humor antes. Fiquei imaginando que ela se chamava Valéria, e tinha brigado com o namorado Roberto um dia antes. Deu vontade de dizer “você merece coisa melhor”, mas achei que não valia a pena. Perguntou meu nome; “Dimitri Navarro” respondi. ela me entregou o exame e eu estou com a taxa de glicose boa!
Andei em direção ao centro e fiquei muito feliz de ver o parque Gonçalves Ledo [acho que é esse o nome]. Lindo! Recém reformado, sabe ali onde fizeram aquela passagem de nível? Pois é ali mesmo! Lindo! Arvores e mais arvores, e tudo pintado, e bancos, e sombra! Aaaah! Sombra! Muito bom!
Eu quero morar por ali! Quero comprar um apartamento por ali e ir trabalhar no centro, é pertinho!
Cheguei no centro e vi outra travesti. Fiquei imaginando se era amiga da Valéria e quis perguntar o que tinha acontecido entre Val & Roberto, mas preferi deixar pra lá, pois dessa vez eu também não tinha certeza se era um homem ou uma mulher feia.
Peguei meu exame de novo, “Dimitri Navarro”, de novo, e fui andar no centro. Como eu amo o centro! Tomei dois copos de chá mate com limão [o melhor e mais barato da cidade] e fiquei andando. Nessa época do ano o centro canta [ou melhor, grita] musiquinhas de natal. As musicas de natal se misturam com os anúncios de produtos baratos e a musica do Calypso que toca na rádio centro formando uma melodia única, com a qual Björk faria um disco e um DVD.
Amo as pessoas que vão no centro. Elas são tão mais interessantes do que as pessoas que andam no shopping. Elas tem mais vida, mais cor, andam mais rápido, cheiram engraçado e se vestem como se o tempo tivesse parado na década de oitenta. Lindo! E elas gritam, berram, pedem socorro e eu assisto e ando.
Depois de muito andar, descubro que a cabeleireira se esconde atrás de uma loja de cosméticos, e quem me ensinou isso foi o cara que anuncia as promoções no microfone. E ele me ensinou no microfone! “Sim! É aqui que a Quitéria trabalha, pode chegar lá atrás e perguntar pela dona Quita”. E de repente todo o centro da cidade olha pra mim e pro meu cabelo e pensa que eu realmente preciso de um corte.
Tentei explicar como queria o meu cabelo, mas não consegui. Como sempre! Eu fico muito nervoso na hora de cortar o cabelo. Estética é algo muito importante pra mim, e eu morro de medo de ficar ridículo no centro da cidade.
Mesmo com a minha explicação chula, Quitéria conseguiu ajeitar o meu cabelo, e ainda brincou com ele e me mostrou um gel que deixa o cabelo colorido. Paguei os sete reais e ela aplicou um creme nos meus cabelos que tinha cheiro de algodão doce. De repente pensei que meu cabelo estava rosa e fofinho e comecei a me desesperar! Tive medo que as criancinhas começassem a arrancar os pedaços pra colocar na boca, ou pior! Tive medo que meu cabelo derretesse no sol! Eu ia ficar com uma massa caramelizada cor de rosa na cabeça que nem as crianças iriam querer. Corri e me olhei numa vitrine e vi que estava tudo bem! Voltei pra casa cheirando a algodão doce e passei o resto do dia imaginando que eu estava no parque enfiado num palito na mão de um gurizinho que queria um ursinho, mas teria que acertar um alvo antes. Que sensação boa! [Menos o palito espetado no pescoço que incomoda].
De repente pensei no papai Noel com cheiro de cabelo cinza. Você já cheirou algo triste? Cheiro de cabelo cinza é melancólico! Pensei em dizer pra ele ir cortar o cabelo com a Quitéria e pedir o creme com cheiro de algodão doce. Quem sabe ele ficasse mais feliz e menos apressado.
Depois eu pensei na Valéria, Quem sabe se ela cheirasse a algodão doce ela esquecesse do Roberto.
Vou perguntar pra Quitéria que linha de cremes com cheiro de parque é essa. Será que tem maçã do amor? Deve ter. Talvez se todo mundo cheirasse a algodão doce, tudo seria mais feliz [e um pouquinho enjoado], mas pelo menos seria divertido. Teríamos que usar uns produtos pro nosso algodão doce não virar uma massa caramelizada, mas seriamos felizes e cor de rosa e azul e com um balão de grátis! Isso sim seria perfeito!

No comments: