Wednesday, September 17, 2014

Gabriela e progresso que passou direto



Quando li o maravilhoso "Gabriela Cravo e Canela" de Jorge Amado, me senti um pouco triste. Não que o livro seja ruim, ou melancólico; não é nada disso. O livro é uma das obras primas do escritor baiano e a estória é bastante envolvente, deliciosa e divertida.

Passada na Ilhéus da década de 20, além da história de amor entre Gabriela e o árabe Nacib, o livro fala sobre um momento de transição cultural bastante peculiar, em que, a pequena cidade percebe que o coronelismo deve dar lugar à modernidade e ao progresso, tanto de pensamento, como industrial.

Pergunto-me então: Onde está a Gabriela das Alagoas, que, passados aproximadamente 90 anos, do encontro da protagonista com o árabe, ainda não trouxe o progresso para cá? Por que está demorando tanto?

Não é preciso ser alagoano para entender como foi construida a história política do estado. O estado se separou de Pernambuco como castigo por uma traição e desde então, passou de mão em mão.


O coronelismo é sim marca presente, no interior e na capital. Ele está presente desde a opressão aos mais pobres até a utopia dos mais ricos, que se acreditam importantes apenas por terem "amizade" com alguns dos "coronéis". Ele está presente no "jeitinho" que se dá ao jogar nomes de poíticos e empresários para não pagar multa, não enfrentar fila no médico, entrar primeiro na balada...

Este ano, nas eleições estaduais, nenhuma novidade: Já é dada como certa a vitória do filho de Renan Calheiros no primeiro turno; em segundo lugar, Biu de Lira, figura semi-cômica do cenário político, que ficou famoso por fazer uma dancinha em vídeo e ser eleito senador por isso.


Entre os candidatos a deputados federal e estadual, além dos nanicos e dos hilários, velhas figuras já conhecidas do nosso cenário, como o ex governador Ronaldo Lessa e o ex prefeito Cícero Almeida, que era antes, apresentador de programa polícial, abrindo caminho para muitos de seus colegas de profissão que se aproveitam do sensacionalismo midiático comum a esses tipos de programa para se eleger sem apresentar propostas para a melhoria da vida de um dos povos mais pobres do país.

Aparentemente a lei ficha limpa não vigora em Alagoas. Talvez, se valesse, nos confrontaríamos com a possibilidade de termos que devolver o estado ao vizinho Pernambuco, ou, transformá-lo em um enorme parque aquático.

Esse comportamento atrasado, que traz com ele a violência, ficou em nossa cultura, em nossa identidade, em nossas veias. Alagoas é o estado mais violento do país, as únicas explicações viáveis são a falta de investimento em educação e geração de empregos e também o histórico de violência que permeia a história política do estado, história essa coberta de sangue, balas e até barricadas na assembléia legislativa. Quem chegou ao poder não era intelectual ou visionário, era violento e bárbaro e foi essa a mensagem que ficou para o nosso povo.


Talvez seja por medo, de tanta violência e tanta miséria que a nossa Gabriela ainda não chegou para por um fim no sofrimento deste povo que vive acuado, vivendo entre o medo e a esperança de um destino menos imoral.

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